Neste início de ano, período geralmente utilizado para reflexões, planejamentos, projetos e ideias para o ano iniciado, algumas reportagens chamam a atenção por valorizarem o princípio que considero fundamental para o bom jornalismo, sobretudo em um país em desenvolvimento: a busca de soluções para problemas sociais (ou, pelo menos, provocar a reflexão naqueles que tem o poder para tal). A imprensa, desde seu surgimento que, recentemente, comemorou seu bicentenário no Brasil, tem um importante papel político para a manutenção da democracia. Entretanto, seu caráter social pode transformar a realidade do país através de pequenas pautas, que além de cumprir todos os famosos critérios de noticiabilidade, ainda são responsáveis por reações imediatas nas pessoas. Reações que, muitas das vezes, dão origem a soluções.
Na última semana, por exemplo, o telejornal matutino Bom Dia Brasil, da Rede Globo, mostrou como o jornalismo pode fazer, de forma perfeita, o link entre problema e solução de um problema social. Em abril de 2010, o jornal fez uma grande reportagem com a desempregada Renata Silva, mãe de três filhos, que vivia, diariamente, em uma jornada extremamente exaustiva e degradante pela sobrevivência, na pobre cidade de Arcoverde, no sertão de Pernambuco. Apesar de ser uma triste realidade para milhares de brasileiros, sobretudo em regiões pobres como o sertão nordestino, a personagem escolhida pelo repórter sensibilizou milhares de brasileiros que assistiram aquela matéria. Este é o papel nobre do jornalismo social: estimular a sensibilidade e o sentimento das pessoas. E as reações costumam ser naturais.
Não é que, na última semana, oito meses depois daquela reportagem, o mesmo Bom Dia Brasil reencontrou Renata, agora grávida de oito meses, junto com os três filhos e em uma realidade completamente diferente daquela reportada em abril. Segundo a matéria, toda a casa foi reformada, inclusive, com a construção de mais um quarto, a espera do novo filhote. Novos eletrodomésticos foram adquiridos e a família deixou de se alimentar de sobras do lixo. Renata passou a ter novos móveis, camas, energia elétrica e o mínimo de conforto para criar seus, por enquanto, 3 filhos.
Ainda segundo a reportagem, a história da Renata e dos três filhos emocionou e despertou a atenção de um brasileiro de forma especial. Um ser Humano (sim, com letra maiúscula mesmo, não é erro de digitação), que, repetindo as palavras do repórter, “não se conformou em ver as dificuldades diante da televisão e resolveu transformar a realidade da família. Distante, no anonimato, um voluntário mostrou que Papai Noel existe e que pode estar presente todos os dias do ano”. A reportagem terminava com a frase de uma das filhas de Renata. “Estou mais feliz porque eu ganhei uma boneca”. Detalhe: a família possui um padrinho anônimo, que não utilizou desta nobre ação como ferramenta de divulgação de nada, mas mobilizado pelo mais nobre sentimento que diferencia alguns seres humanos: amor ao próximo.
Este tipo de jornalismo vem ganhando um número maior de adeptos a cada ano. É preciso compreender que a imprensa, hoje, não representa apenas o “Quarto Poder”, expressão criada o inglês Lord Macaulay, em 1928, para tentar representar a importância da imprensa naquele momento da história. A imprensa é um grande agente legitimador de opiniões e, diante da crise secular vivida pelo poder público, tornou-se a grande esfera de representação e credibilidade em nossa sociedade. Em algumas situações, com maior ascendência para julgar do que o Poder Judiciário; com maior possibilidade de propor e alterar leis do que o próprio Poder Legislativo; e, neste momento, com enorme responsabilidade social, tão grande quanto a do Poder Executivo. Diante deste cenário, talvez seja fundamental repensar o modelo de imprensa que é atualmente produzido e nos é vendido pelos veículos de massa, sobretudo na TV. De repente, respeitar outro princípio básico do jornalismo: reportar aquilo que o telespectador deseja ver. Simples assim!

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