quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Minha relação com a docência (Parte 2)

Em outro post, iniciei aqui uma abordagem bem didática sobre minha relação com a docência. Relação essa que começou, mesmo que de forma inconsciente, na pré-adolescência e se estendeu por todo o meu período de formação pessoal e profissional! Muitos professores que possuem essa relação íntima com a docência sabem que a sala de aula é, com toda a certeza, o espaço mais nobre de aprendizagem e de formação humana, tanto para alunos quanto para o próprio docente.

Minha carreira docente, de fato, começou logo que tomei a iniciativa de sair do Banco do Brasil. Recebi um convite da Faculdade Pitágoras para fazer uma pesquisa e redigir uma publicação comemorativa dos seus 40 aos de história. Um trabalho intenso e instigante, que resultou em uma grande publicação (uma revista ilustrada) resgatando toda a história da instituição. Este trabalho abriu uma grande porta e rendeu um convite: o de lecionar para o curso de Jornalismo (minha grade paixão profissional).

De imediato, assumi uma disciplina do 2º período. Entrei em sala de aula sem saber o que falar. Afinal de contas, sempre tive este anseio mas nunca havia buscado uma preparação técnica para tal. Sabia, desde sempre, que conteúdo não seria problema, pois estava no mercado e sempre fui um estudioso da Comunicação. Entretanto, ensinar depende de inúmeros fatores além do conhecimento. Cheguei a ouvi vários conselhos: “mantenha o controle da turma”, “seja rigoroso”, “não seja um professor amigo, mas seja o bom professor”. Inclusive, cheguei a ouvir que “sala de aula é 80% empatia e 20% conhecimento”. Foram inúmeras as tentativas de se transportar experiências no intuito de me tranquilizar e buscar apoio emocional para este importante momento.  

O primeiro semestre como docente poderia qualificá-lo com dois adjetivos: gratificante e empolgante. Gratificante porque representou um enriquecimento pessoal e profissional indescritível neste simples memorial. Existem pessoas que dizem que “levam tudo de nós, menos as experiências e o conhecimento”. Pude perceber isso neste momento, quando me lembro e analiso meu primeiro semestre como professor. Entrei com 26 anos e, às vezes, me misturava aos alunos. No primeiro dia de aula, recebi boa noite da turma, entrei em sala e eles me perguntaram de onde eu vinha. Fiquei sem entender a pergunta, e o aluno reiterou: “Você veio transferido de que faculdade?”, entendo o mesmo que eu era um aluno. Fantástico!

Aquilo representou uma ruptura em tudo o que eu havia preparado para o primeiro dia de aula, pois eu jamais imaginava ouvir aquilo. Todo meu roteiro se desmoronou. Empolgante porque cada dia se tornava diferente do anterior, o que contradizia minha realidade de trabalho até então. Os problemas nunca eram os mesmos, os conflitos eram sempre diferentes e as relações completamente discrepantes. Aquilo representou uma divisão entre dois momentos antagônicos na minha vida: a insatisfação e um início de depressão versus a realidade emocionante e contagiante como professor.

Aprendi, lecionando em sala de aula, que o educador precisa rever continuadamente seus conteúdos, as metodologias e, principalmente, suas relações. Por isso, mesmo após completar dois cursos de pós-graduação, ingressei no Mestrado. Nunca tive dúvidas de que meu caminho acadêmico seria este.. Como afirma Paulo Freire, “a alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”. Esta convivência e aprendizado constante me move, cada dia mais, a viver esta dupla experiência de educando/educador. Terei a honra de terminar este breve  memorial da mesma forma como comecei, citando o mestre Paulo Freire. “Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho”. Que dias melhorem nos recebam em breve...

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