terça-feira, 13 de setembro de 2011

Uma breve análise sobre o saber

Baseado no texto: FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p.475 – 517.
Analisar cada uma das obras de Michel Foucault é uma forma de entender a enorme variedade de pesquisas sobre o referido escritor. Aliás, a grande dificuldade em se definir a real linha de pensamentos de Foucault por grandes e consagrados estudiosas evidencia a complexidade de suas análises ao longo das décadas. Neste texto especificamente, Foucault procura traçar um perfil e elaborar uma análise histórica das Ciências Humanas no plano geral dos saberes. Uma tarefa tão complexa como a própria definição exata da linha de pensamento defendida pelo autor.

Foucault faz uma retomada histórica para buscar a explicação das relações humanas. Na época clássica, o campo do saber era homogêneo, ou seja, o conhecimento procedia às ordenações pelo estabelecimento das diferenças. A busca pelo saber partia da matemática e outras ciências exatas, ou seja, a objetividade era o ponto central (núcleo) na busca pelo conhecimento. Somente a partir do século XIX, com o surgimento de novas formas de pensar, o campo epistemológico se direciona para outros caminhos. O ideal da “matematização” começa a perder espaço para novas formas subjetivas de se analisar o conhecimento.

Foucault é um gênio no estudo do saber. Alguns autores se “aventuram” em classificar suas obras sob o ponto de vista cronológico: na década de 60, textos arqueológicos que tem por tema o saber, nos anos 70 textos genealógicos, e por fim nos anos derradeiros de sua vida textos arqueogenealógicos. Michel Foucault, ao analisar a gênese e a filosofia das ciências, mostra como é recente o aparecimento do “homem” na história do nosso saber. O autor busca estudar a mudança interior de nossa cultura do século XVIII ao século XIX, através da gramática geral, que se tornou filologia; da análise das riquezas, que se tornou economia política, e da história natural, que se tornou biologia.

É fantástica e instigante a análise de Foucault em relação ao discurso ocidental (o autor de atém ao período entre o Renascimento até o início do século XIX). O autor enfatiza este período específico como o “tempo de efetivação da modernidade”, ou seja, o momento em que as Ciências Humanas se tornam uma importante referência no plano geral dos saberes. É neste momento que a subjetividade conquista um importante espaço nas cadeiras de pesquisas e no ciclo de conhecimento das pessoas, concebendo novas maneiras de se enxergar as diferentes realidades. A relação que o autor faz entre saber e poder instiga a uma reflexão mais profunda sobre o assunto, principalmente quando ele afirma que “com o saber e por trás de todo o saber, de todo conhecimento o que está em jogo é uma luta de poder”. As três áreas do saber reiteradas pelo autor (vida, trabalho e linguagem) seria a origem de novas formas de se pensar, colocando o homem como o centro das atenções e das linhas de estudo. Surge aí um paradoxo – que, diga-se de passagem, vivemos até os dias atuais - entre as chamadas ciências exatas e ciências humanas. 

Foucault faz uma análise conjunta do surgimento dos domínios empíricos com a problemática do homem. Partindo do estudo do trabalho, da linguagem e das ciências da vida, o homem vira, de fato, objeto do saber. É importante perceber a visão histórica do autor, quando ele afirma que “tudo nas Ciências Humanas é matematizável é suscetível de formalização”. Nesta passagem, fica evidente a visão moderna de Foucault, que procura desvincular a existência das ciências humanas modernas das ciências exatas tradicionais, afirmando que “é pouco provável que a relação com as matemáticas seja constitutiva das Ciências Humanas”. Fica claro, após esta breve análise, o motivo de tantos pesquisadores não conseguirem uma unanimidade em relação aos estudos envolvendo o saber.

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