Volto a abordar neste espaço um assunto que, de tanta exposição que teve em tão pouco tempo, acabou banalizado pela imprensa nacional. Passadas algumas semanas do impacto inicial e do bombardeio diário de toda a mídia, o “caso Bruno” já não ocupa mais as manchetes dos jornais. Foco agora está concentrado nas eleições da próxima semana, mesmo que ainda não tenhamos um desfecho das investigações e um parecer final da justiça. Mas o que faz um assunto ser amplamente abordado por todos os veículos de imprensa e, como em um passe de mágica, desaparecer dos noticiários com a mesma velocidade?
Não paira dúvidas de que a imprensa possui um importante caráter social, sobretudo em uma sociedade com baixos índices de educação e que deposita nela toda uma credibilidade como agente legitimador de opiniões. A imprensa tem o poder - nem sempre executado de maneira eficiente - de mostrar problemas, propor soluções e, em alguns casos, cobrar dos responsáveis ações que beneficiem a população. Mas ela precisa vender para sobreviver e, em função de alguns critérios estabelecidos pelos órgãos de comunicação, alguns fatos tornam-se notícia, outros não. É uma eterna discussão que envolve conceitos de ética e linha editorial. Escrevi esta mesma análise em junho deste ano, quando abordava o excesso de exposição do “caso Bruno” na imprensa e o seu provável desgaste com o passar do tempo. Dito e feito.
Naquela época, já conseguíamos pensar em algumas pautas que iriam “manchetar” os jornais dali em diante, abafando a apuração referente ao “caso Bruno”: Copa do Mundo, escassez de chuvas, crescimento da economia e, claro, o período eleitoral. Em época de “entressafra editorial”, o referido caso poderia voltar, de forma discreta, ao noticiário. É assim quando há um novo depoimento ou uma das várias transferências de penitenciaria protagonizadas pelo goleiro do Flamengo. No mais, sem novidades.
Assim como outros casos polêmicos (vide Suzane von Richthofen, Isabela Nardoni e, mais recentemente, o caso Mércia Nakashima), a população cobra da imprensa resultados e apurações mais consistentes. Mas é importante ressaltar que o papel principal da imprensa é de noticiar os principais fatos. Apuração, investigação e conclusão dos fatos cabem a instituições competentes como a polícia. Essa inversão de papéis provocada pela própria imprensa em suas abordagens investigativas atribui um caráter que ela jamais poderá assumir, criando e alimentando na sociedade um sentimento de impunidade, de corrupção e de alienação frutos, entre outras coisas, da inoperância e desinteresse do governo em promover a cidadania. E que, em nenhuma instância, tem sua origem em abordagens feita pela mídia.
Voltando ao caso Bruno, é fato que a “novela” vai chegando aos seus últimos capítulos. Ao contrário de beijos, casamentos e final feliz (clichê dos últimos capítulos de 90% das novelas brasileiras), tudo se encaminha para a confirmação de assassinato da modelo Elisa Samúdio. Entre desmaios do goleiro e supostas tentativas de suicídio na penitenciária, a imprensa busca novas notícias para manter acesa a cena do espetáculo. Enquanto isso, novas “minisséries” vão ocupando espaço nos principais telejornais do país, a espera do desfecho final desta grande novela que, pelo caminhar dos acontecimentos, terá um dos maiores índices de audiência de nossa história. Do jeito que o brasileiro mais gosta!
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