Um caos político, social e econômico. E desta forma, e nesta ordem, que classifico os acontecimentos recentes ocorridos no Rio de Janeiro. Encaro o estado de guerra civil atualmente instalado na mais bela cidade do mundo como um fato eminentemente político, com consequências sociais graves e, algumas delas, irreversíveis (sobretudo, quando envolve morte de pais de famílias inocentes que, vítimas e reféns de uma disputa política, submetem suas mulheres e seus filhos a uma situação mais calamitosa que muitos países declaradamente em guerra, como o Iraque).
Neste momento, acesso a diversos sites de notícias que, como em um filme de Steven Spielberg, estampam manchetes como: “Bandeiras são hasteadas para marcar tomada do conjunto do Alemão”; “Cristo Redentor tem missa pelos conflitos no Alemão”, “Vencemos', afirma comandante da PM sobre ocupação no Alemão”. Esta última era a que mais me escandalizara até que, acessando um dos grandes canais de TV de notícias do país, parte do maior grupo de mídia brasileiro, eis que visualizo a manchete, no inferior da tela: “Acompanhe aqui a cobertura ao vivo da Guerra no Rio de Janeiro”. Neste momento, percebi que estava começando a fazer parte de uma massa que, fatalmente, é manipulada por estes grandes grupos de mídia que, como o citado autor de filmes de Hollywood, escreve suas tramas sempre imaginando a figura do grande herói que irá salvar o protagonista.
É mais do que claro que o objetivo do Governo é impor ao Rio taxas civilizadas de criminalidade, que no estado sempre estiveram em patamares elevados. E isso tem sido possível graças à metodologia de combate ao crime, que alia gestão e acompanhamento. Quanto à instalação das RISP (Regiões Integradas de Segurança Pública), das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e do Sistema de Gerenciamento de Metas para Indicadores Estratégicos de Criminalidade, insiro-me na plateia que aplaude estas importantes iniciativas (apesar de achar que o acompanhamento e o treinamento contínuo desses grupos deixam a desejar). Ações como a criação das RISPs, a consolidação das Áreas Integradas de Segurança Pública (Aisp) e outras medidas, com foco em indicadores estratégicos, como os de homicídios, roubos de rua, roubos de veículos e latrocínios, foram fundamentais para a melhoria dos números. Mas, apesar de nobres, não ações que necessitam de um engajamento da mídia para que o combate ao crime torne-se efetivamente eficiente. E isto envolve uma polemica questão política.
Que cada órgão de comunicação (seja ele de TV, rádio, impresso ou Internet) possui um grupo político financiando e, obviamente, lucrando em cima de sua atividade fim, isso todos nós sabemos e nos acostumamos. Entretanto, a linha editorial e jornalística destes veículos, dentro de um contexto de caos social e iminente ameaça ao bem-estar da sociedade, deve ser totalmente voltada para a resolução, dentro das leis, desta situação. Mostrar, apenas, não ajuda a resolver! A imprensa, dentro de seu contexto social, é agente legitimador de opinião e, em virtude da grave crise de identidade de nosso sistema político, ganhou ainda mais relevância e confiança por parte da população. E a sociedade, muito mais do que “acompanhar ao vivo a Guerra no Rio de Janeiro”, espera uma postura muito mais ativa e voltada a busca de soluções por parte dos grandes grupos de mídia, que exibem estas imagens mundo afora, mas, dentro de sua atribuição mais nobre, pouco contribui para a resolução efetiva do problema. Será que as ligações financeiras e de influência com os governos Estadual (do Rio de Janeiro) e Federal impedem este tipo de abordagem? Pela resposta, que está clara na forma e na cobertura dos principais canais de mídia, só tenho um comentário a fazer: “Lamentável”!
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