terça-feira, 8 de junho de 2010

Comunicar é relacionar...

Conversando e debatendo intensamente com amigos e profissionais de diversas áreas sobre a importância de se cultivar bons relacionamentos pessoais e profissionais, reforço minha primeira impressão que tinha sobre este assunto: a comunicação eficaz ainda é um enigma a ser decifrado e descoberto na maioria dos profissionais do mercado. Se ela realmente fosse estudada e analisada pelas empresas, jamais chegaríamos aos resultados que hoje percebemos: ferramentas mal utilizadas, colaboradores e clientes insatisfeitos entre si e com a organização, disputas internas, péssima qualidade de atendimento e outros cenários mais comuns nos dias atuais do que podemos imaginar.



Certa vez, escutei um consultor de empresas abordando exatamente a importância de se cultivar bons relacionamentos. E guardei a frase que ele utilizou: “O concorrente de hoje pode ser nosso parceiro amanhã. Assim como nosso colaborador pode se tornar nosso maior concorrente. Mas todos serão, sempre, seres humanos. E alguns acabam se tornando grandes amigos”. Ou seja, temos que tirar as “armaduras” profissionais que criam barreiras de relacionamentos e pessoalizar as relações do cotidiano. Lembrar que o gerente do concorrente tem um nome e uma família; ou que o diretor da empresa tem uma história e uma bagagem de vida. Considerar sempre que as empresas são formadas por pessoas e que a qualidade do relacionamento depende, diretamente, da eficácia da comunicação estabelecida. Sem comunicação não há relacionamento.



Existe uma palavrinha mágica que há muito vem se perdendo nos relacionamentos atuais: respeito. Mesmo ciente de aumento vertiginoso do número de concorrentes, algumas organizações ignoram este novo cenário e continuam tratando seus públicos – internos e externos - de uma forma cruel. É verdade que algumas estão aprendendo a respeitar o público e boa parte disso é graças à popularização do poder de comunicação que a tecnologia criou. Mas é uma parcela bem pequena, já que a maioria ainda não se adequou à era da informação. Existe uma quantidade enorme de sites, blogs e comunidades virtuais que debatem, diariamente, problemas referentes a atendimento e relacionamento com clientes de grandes empresas. Quando o assunto é o atendimento das empresas de telefonia celular, aí abrimos espaço para um amplo e polêmico debate, que não caberia neste espaço. E olha que todas elas se orgulham em manter e divulgar o famoso “Setor de Relacionamento com o Cliente”. Talvez não saibam, sequer, o significado correto da palavra relacionamento.



Voltando ao eixo dessa discussão, penso que as pessoas, na correria de um cotidiano cada vez mais afunilado e cheio de compromissos profissionais, estão deixando de lado a importância de se manter vínculos saudáveis e de respeito com as pessoas. Fonte de muitas doenças oriundas da vida urbana atual, cheia de compromissos “inadiáveis” e de relações perversas de trabalho, essas pessoas assistem à vida passar, em uma TV de LCD e sentados em seus escritórios, deixando de desfrutar momentos marcantes que dinheiro nenhum irá comprar: uma boa conversa no bar, uma ida ao cinema, a leitura de um livro ou uma bela caminhada no final do dia...



Não quero forçar a barra para criar mais compromissos – afinal, ninguém aqui tem tempo para essas coisinhas “insignificantes”. Mas lembro de “compromissos” pequenos, como sentar à mesa para almoçar com a esposa/marido, conversar e ajudar o filho no dever de casa, assistir o jornal junto com a família, acompanhar e viver o crescimento de seus filhos, aproveitar e curtir a presença dos pais. Muitos nem sabem o que é isso e devem estar rindo neste momento. Quando acordarem para essa realidade, irão perceber que trabalharam bastante o suficiente para juntar muito dinheiro, aplicar e colocar na conta do próprio filho. Afinal de contas, ele precisará de muito dinheiro para cuidar do pai/mãe, que tanto trabalharam, mas com a saúde, provavelmente, já bastante debilitada. Aí, como dizia Raul Seixas, é sentar no trono do apartamento com a boca escancarada e cheia de dentes, e esperar a morte chegar...

Um comentário:

  1. Parabéns pela lucidez do artigo.Sempre acreditei na palavra "relacionamento" e somo a ela: "conduta". Aliás,sem a segunda, a primeira fica frágil demais para se sustentar no campo profissional. Sobre "tempo", no campo pessoal ainda sou vítima das atrocidades provocadas pelas disputas profissionais autônomas. Sempre me servirá a carapuça até que eu tome a decisão de hierarquizar o que realmente importa em nossas vidas. Espero conseguir.Abs.

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