quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Direito de privacidade e o interesse midiático


Big Brother Brasil? A Fazenda? Fantástico, o “show da vida”? Não, dessa vez milhões de telespectadores de todo o mundo acompanharam, ao vivo e a cores, de diversos ângulos e com inúmeras câmeras com imagem em HDTV, o resgate dos 33 mineiros soterrados no Chile. Não foi mais um produção da Endemol, mas sim um enorme espetáculo midiático que emocionou a todos e ocupou os noticiários durante 24 horas, de forma ininterrupta, na última quarta-feira. Mas as comparações partem dos quatro cantos do mundo. Segundo o jornal britânico "The Guardian", o drama é parecido com o reality show "Big Brother". O diferencial, diz o jornal, é que as pessoas se importam de verdade com o que acontece com os mineiros que ficaram mais de dois meses soterrados. "Sim, parece com o Big Brother. A multidão, a torcida, as entrevistas, o dinheiro, os contratos de livros. Mas tem uma diferença: você se importa. Isso é incrivelmente tocante. E as fotografias são extraordinárias", estampou o diário inglês.

Sem dúvidas, um fato histórico que ficará guardado na memória de todos que assistiram, ao vivo, a transmissão feita pelas principais emissoras de TV de todo o país. Para se ter uma idéias, especula-se em 2 mil o número de jornalistas envolvidos na cobertura do resgate. Agora vem o grande dilema: os mineiros que ficaram presos por 67 dias sob a terra no norte do Chile agradeceram aos meios de comunicação por todo o trabalho de informação, mas pediram privacidade aos jornalistas nos próximos dias. Eles solicitaram, especialmente aos jornalistas, que "tenham um pouco de paciência", de acordo com assessor de imprensa da Associação Chilena de Segurança. Em contrapartida, segundo a revista norte-americana "Time", os mineiros já contrataram um advogado para organizar um contrato que garantisse que todos vão lucrar de forma igualitária sobre as ofertas da mídia para explorar o caso.

A grande questão é: até que ponto o direito de privacidade é legítimo, diante da repercussão mundial deste caso? O leitor pode não compreender esta questão e achar a resposta lógica, pois a privacidade é um direito de todos. Mas é uma discussão polêmica sob o ponto de vista técnico do jornalismo, uma vez que a cobertura deste caso não acabará com o resgate e a mídia teve papel relevante para seu desfecho. Aliás, essa cobertura começa agora para várias emissoras de TV, jornais, revistas, sites e editoras, já de olho nas instigantes histórias que podem compor um belo livro. Do outro lado, o público quer saber sobre a história de cada um dos sobreviventes, o pedido de casamento aceito a mais de 700 metros de profundidade, o caso extra-conjugal exposto, a história do ex-jogador da seleção do Chile que estava na mina. Enfim, cada história torna-se uma excelente matéria, uma cobertura específica ou o capítulo de um grande livro. O jornal canadense "Globe and Mail" estimou em R$ 680 mil o valor a ser pago por redes de TV dos Estados Unidos por cada entrevista exclusiva. O jornal diz que eles receberam ainda convites para viagens internacionais e patrocínios de marcas de roupas e de cerveja.

Sem dúvidas, a extensa cobertura e a cobrança em relação às soluções para este caso junto ao governo chileno garantem uma certa acessibilidade da mídia às 33 famílias dos mineiros resgatados no Chile. Resta-nos saber o que prevalecerá: o direito constitucional de privacidade ou os interesses midiáticos/econômicos na exploração intensa desse fato histórico. Só o (curto) tempo nos dirá.

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