quinta-feira, 17 de junho de 2010

“Cala a boca, Galvão”: um fenômeno publicitário




Brasil e Coréia do Norte, estréia da “seleção canarinho” na Copa do Mundo da Africa do Sul. Presente em milhões de lares brasileiros, a predominância de audiência da TV Globo, independentemente de gostos e opiniões sobre qualidade de narradores e comentaristas, ainda é avassaladora em relação às concorrentes. Chamou a atenção do Brasil inteiro, nos 15 minutos iniciais do jogo, uma faixa afixada na arquibancada, exatamente no centro do gramado, local mais visualizado pelas câmeras de TV de todo o mundo, com o simplório, mas objetivo recado: “Cala a boca, Galvão”.



Nem todos sabem, mas este movimento nasceu no Twitter, rede social da web, de forma tímida e sem compromisso, logo após a cerimônia de abertura do mundial. Foi ganhando adeptos e seguidores e se multiplicando e proporções geométricas. Em três dias, era o tópico mais citado e comentado no Twitter em todo o mundo (top pick). A ponto de conquistar adeptos na África do Sul e chegar ao ponto de atingir, de forma gratuita, os cinco continentes de forma simultânea! Muito mais eficaz do que qualquer campanha publicitária. Sinal claro de que a criatividade na publicidade e na propaganda ganha contornos ainda mais específicos nesta nova era da tecnologia da informação.



É interessante perceber como a atual geração de jovens, que já nasceu na comunicação 2.0 e não traz nenhum vício oriundo da era analógica, tem uma facilidade imensa em disseminar conteúdos na web (informativos ou publicitários), de uma forma dinâmica, rápida e eficiente. A questão que mais mexe com trabalho dos publicitários e profissionais de marketing não é exatamente em como atingir este público. Afinal de contas, ele está online e basta acessar as redes sociais que eles estão lá, 24h por dia. O maior desafio é transformá-los em agentes disseminadores de seus conteúdos e suas marcas, conquistando-o com dois requisitos básicos: qualidade de seus produtos e, principalmente, criatividade na mensagem. É aí que o mercado seleciona àqueles que desenvolvem esta criatividade e, sobretudo, capacidade de improviso.


Foi engraçado ver o referido locutor ter que narrar o jogo e fazer comentários enquanto a câmera oficial insistia em reprisar a imagem da faixa. Chegou a ser constrangedor para quem estava assistindo. Alguns patrocinadores investiram milhões de dólares em placas publicitárias no campo, nas arquibancadas e nas emissoras de TV. Entretanto, apenas aquela simples faixa foi amplamente citada pela mídia mundial, sendo destaque em jornais como o The New York Times (EUA) e o El País (Espanha), além de vários sites de notícias. Pelo Brasil, vários jornais e portais repercutiram este fenômeno, atribuindo a programas humorísticos e a jovens “twitteiros” a iniciativa desta ação.



Neste momento, não nos interessa saber o que motivou ou quem mobilizou a ação. Nem se tinham razão ou não com o desabafo. Tecnicamente falando, nenhuma marca de cerveja, refrigerante ou produtos esportivos; nenhum patrocinador oficial da Seleção Brasileira ganhou tanta notoriedade e retorno de imagem quanto o “Cala a boca, Galvão”. Talvez os jovens “twitteiros” tenham dado, mesmo sem querer, uma verdadeira lição a muitos publicitários que ainda não se posicionaram nesse novo mercado da criatividade. Se o “Cala a boca, Galvão” fosse uma marca de refrigerante, com certeza, estaria sendo experimentada por milhões de brasileiros, ou estaria nos pés de milhares de curiosos se fosse uma nova marca de tênis esportivo. E tudo com uma belíssima publicidade gratuita.

5 comentários:

  1. Há várias situações em que algo ganha força no twitter. Tenho observado que uma delas é quando se fala alguma coisa muito engraçada relacionado com algum comentário que todos têm em comum, mas que ninguém ainda teve a sensibilidade de twittar. A narração do Galvão já era algo que o povo sempre comentava em época de copa. Alguns detestam, outros gostam. Mas nesta copa os comentários ganharam força e se espalharam por causa do Twitter.

    Muita gente no Brasil gostou da idéia e retwitou. Isso fez com que a frase "CALA BOCA GALVÃO" surgisse no Trending Topics mundial, já que o português é uma das linguas mais utilizadas no Twittter. Sempre quando algo que não é inglês aparece no Trending Topics mundial os twiteiros lá fora começam a perguntar do que se trata, e os twiteiros do Brasil sabem muito bem disso.

    Alguém, ou várias pessoas que conhecem o caso do locutor pensou em explicar em inglês do que se tratava. Vi várias explicações em inglês. Algumas corretas, e outras para “tirar um sarro” mesmo com os estrangeiros, algo que é típico dos brasileiros, todos sabem. Primeiro disseram que "CALA BOCA GALVÃO" era a nova música da Lady Gaga. Mas o que ganhou mais força foi quando disseram que Galvão era uma ave brasileira que estava em extinção, e que cada RT valeria R$ 0,10 para ajudar a salvar a espécie.

    O pior é que os estrangeiros acreditaram. Logo depois no TTBr "CALA BOCA GALVÃO" estava em segundo, e no TT mundial estava em primeiro. Vi muita gente perguntando em inglês do que se tratava e muitos brasileiros zuando com cara deles!!!

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  2. Sem duvidas um fenomeno do marketing e criatividade! Pra quem pensa q twitter é apenas um local pra expor ideias em 140 caracteres... pode se tornar uma importante ferramenta de marketing, se bem utilizada!!

    Parabens pelo blog e pelos artigos!!

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  3. jornalistarodrigodias@bol.com.br18 de junho de 2010 às 08:14

    Concordo com os senhores, no entanto este fato só ganhou toda esta projeção pq já havia um conceito pré existente sobre ele. O que nos pode levar a pelo menos uma indagação: o twitter é uma área de confluência? Onde pode se solidificar posições, pela liberdade em expor pensamentos, que em boa parte, ocorre de forma descompromissada. E no meio destas reproduções sucessivas o conceito inicial se perde e ganha outros significados?
    O twitter é uma grande ferramenta, mas como tudo que ainda é novo demanda análise.

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  4. Parabéns pelo artigo e pelo Blog Chiquinho...abraços

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  5. Caro Rodrigo;

    Concordo com você e acho que o Twitter, assim como outras mídias sociais virtuais, merecem um estudo mais aprofundado da academia. Entretanto, que deve estar no planejmaneto de campanha e de mídia dos publicitários, isso não tenho dívidas!

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