quinta-feira, 1 de julho de 2010

Caso Bruno: " Vale a pena ver de novo"?

Não temos dúvidas de que a mídia (sobretudo a imprensa) possui um importante caráter social. Ela tem o poder - nem sempre executado de maneira eficiente - de mostrar problemas, propor soluções e, em alguns casos, cobrar dos responsáveis ações que beneficiem a população. Mas ela precisa vender para sobreviver e, em função de alguns critérios estabelecidos pelos órgãos de comunicação, alguns fatos tornam-se notícia, outros não. É uma eterna discussão que envolve conceitos de ética, política editorial, etc... Mas, fazendo uma comparação grosseira, é como a lavoura que sustenta milhões de brasileiros: em alguns momentos do ano, a produção costuma ser intensa e a fartura é garantida; em outros, de estiagem, o agricultor precisa ocupar seu tempo com outras atividades, preparando o solo para a próxima colheita. Neste sentido, junho pode ser considerado o "mês da colheita" para a mídia nacional.  Nunca na história deste país (desculpem o trocadilho) tivemos tantas notícias concentradas em 30 dias.

Começamos o mês com as prévias de candidaturas para presidência, governador, deputados e senadores. Alianças surgiam a todo momento e os anúncios eram feitos todos os dias. Serra convida Aécio, que nega o convite mas apóia Anastasia, que tem o apoio do PR, partido cujo presidente quer apoiar Hélio Costa e Patrus, que venceu disputa com Pimentel, que vai brigar pelo Senado com Aécio. Por fim, Serra mostra seu caráter social e anuncia Índio para cargo de vice. E por aí vai... É notícia política todos os dias! 

Em meio ao caos instalado na política nacional, a catástrofe em Alagoas e Pernambuco. Mais de 150 mil pessoas perderam suas casas por uma enchente fora de época que arrasou o Nordeste do Brasil. Em meio à esta cobertura jornalística intensa, notícias de que o crescimento do PIB brasileiro teve índice comparado ao chinês. Sem contar o recorde em geração de empregos! Em ano eleitoral, o foco volta para economia até a metade do mês, quando se iniciou a Copa do Mundo. Aí o Brasil literalmente pára! As melhores equipes de repórteres dos grandes veículos falam ao vivo, a todo momento, direto da África do Sul. Dois ou três jogos diários, intensa troca cultural e um espetáculo a ser apreciado pelos amantes do futebol (leia-se brasileiros). Bem, é só a Copa dar uma leve pausa de três dias que um novo fato ocupa as primeiras páginas dos jornais: o suposto envolvimento do goleiro Bruno, do Flamengo, em crimes contra a ex-namorada. Típico caso que o brasileiro adora acompanhar, como se fosse uma novela. Ah sim, isso vende... E, se vende, é notícia de primeira página!

Não tenham dúvidas de que esta é a "Novela das 8" do momento. Claro que perderá o foco da mídia a partir de amanhã, quando a seleção voltará a campo para enfrentar a Holanda. Se a seleção ganhar, o 'caso Bruno' terá repercussão até terça-feira, quando cederá espaço para a semifinais da Copa. Caso contrário, preparem seus olhos e ouvidos para uma espécie de  "Vale a Pena ver de Novo" do caso Isabela Nardoni. Assim que as equipes voltarem da África, serão exibidas uma infinidade de simulações,  opiniões de profissionais como psicólogos, psicanalistas, peritos, analistas de comportamento... O assunto renderá longos espaços em programas esportivos, jornalísticos e de auditório... Aquilo tudo que já conhecemos em outros casos. O espetáculo irá reinar novamente. Porque? Simplesmente porque o brasileiro compra! Se pudesse, comprava Pay-Per-View do sítio do jogador, 24h por dia! Os editores, principalmente das emissoras de TV, "lamentam" que este fato tenha ocorrido em plena Copa do Mundo. São pontos do Ibope que poderiam ser aproveitados em épocas de "estiagem" editorial. Sendo mais claro, em época de falta de notícias. E assim vamos nós...     

Um comentário:

  1. Meu caro Chiquito,

    a partir da semana que vem teremos a avalanche de pesquisas "de intenção de votos" sempre presentes nos noticiários também!

    Abraço!

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