domingo, 1 de agosto de 2010

Ética no jornalismo: “Você Decide”?

A cada dia que se passa e a cada fato novo que surge como “um grande prato a ser mastigado e digerido pela imprensa”, faço uma importante pausa para pensar sobre a ética (ou a falta dela) no jornalismo brasileiro. Está cada vez mais latente a falta de preparo técnico de muitos profissionais e de diversas empresas jornalísticas. Quando falamos em “Caso Mércia”, “Caso Bruno”, “Caso Cissa Guimarães”, enfim, “casos” que escandalizam a sociedade como um todo, reporto-me à época do “Você Decide”. Aquele programa de TV que abordava histórias fictícias onde o telespectador decidia pelo final que mais lhe interessava, votando pelo telefone. O problema é que a mídia está fazendo isso com fatos reais, julgando pessoas e escolhendo, deliberadamente, o final de suas histórias. E é importante refletir sobre esta capacidade que a imprensa tem de legitimar opiniões e transformá-las em verdades absolutas. E o perigo que a irresponsabilidade em relação a esta capacidade pode trazer à nossa sociedade.

Percebo uma dificuldade cada vez mais constante de se definir realmente o que é notícia nos meios de comunicação e de como mostrá-la de forma verdadeira e clara, deixando de lado todas as convicções e pré-conceitos (que todos temos) e se concentrar naquilo que é apurado e verificado. No jornalismo ético e feito com responsabilidade, principalmente com o cidadão, só há lugar para opiniões em colunas, artigos e editoriais. E isso, claramente, não vem acontecendo na cobertura desses casos que abordam crimes, principalmente naqueles que envolvem pessoas famosas. Um erro que vem da base do nosso jornalismo, mas que precisa urgentemente ser revisto.

A parcialidade talvez seja o grande pecado cometido pelos jornalistas neste tipo de cobertura estilo “Big Brother”. Apesar do apelo popular por informações em tempo real, os jornalistas devem se concentrar, exclusivamente, naquilo que realmente é uma informação. Mas, no fim, cada um acha uma coisa, pensa de uma forma diferente e, pior, expõe isso de uma maneira pouco responsável. Uma coisa é ser analítico e buscar, sob todos os pontos de vista possíveis, as percepções de especialistas sobre determinado fato. Outra coisa é fazer do sofrimento intenso de algumas famílias uma “novela da vida real”. Enquanto grandes jornais brigam pela melhor capa do goleiro do Flamengo ou os grandes telejornais disputam a melhor “história” de um pai de família que perdeu sua casa no temporal em Pernambuco, centenas de pessoas são expostas a alguns milhões de brasileiros. Seria essa a essência do bom jornalismo?

Na política, a síndrome da “preguiça jornalística” é ainda mais evidente. Basta uma acusação da oposição em relação, por exemplo, a um ato de corrupção. Qual a primeira atitude do jornalista? Ouvir a outra parte! Fazendo isso, a matéria está a ponto de ser exibida. Uma espécie de bula de como fazer uma matéria... Todo jornalista que respeita a si e a profissão não pode acreditar em “embalagens” ou formas prontas de se produzir notícia. É papel básico de todo jornalista investigar a fundo toda e qualquer informação. Apurar o que há de verdade na história. Inclusive, se for o caso, para concluir que não há história nenhuma! E se não há história, não deve preencher uma valiosa página de jornal com especulação ou jogo político. Em época de campanha eleitoral, é importante frisar que ética, honestidade e responsabilidade devem ser mais do que um slogan de candidato a presidente. Mas, sim, fazer parte da prática diária e da rotina profissional de todo jornalista.

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